Thursday, February 28, 2008

refúgio em um sorriso

Hoje enquanto passeava pelo quarteirão, tentando espairecer minhas idéias desgastadas sobre uma realidade distante, almejada, mas distante, ouvia músicas no mp4 que há tempos não escutava, e comecei a andar, andar, andar em direção ao desconhecido, e logo já não sabia mais pra onde estava indo. Gostei dessa sensação, e continuei a andar, querendo que de alguma forma, pudesse chegar a tocar mesmo que ligeiramente essa realidade paralela. Enquando caminhava, tentando ao máximo livrar meus pensamentos de preocupações, avistei um pouco à frente uma menininha linda, de aproximadamente três primaveras brincando na grama. Fui me aproximando dela, e em determinado ponto eu já não conseguia mais parar de olhar em direção àquela criança. Tão perfeita, tão pura e inocente, tão... mágica. E comecei a imaginar como ela estará daqui a alguns anos... será que ela irá conseguir passar por meio de toda essa humanidade corrupta e insensível sem se infectar? Será que daqui a quinze anos ela estará assim tão perdida quanto eu e se questionando a razão da existencia de tanta podridão no coração das pessoas? Não sei. Não sei mesmo. Continuei a andar, ainda com os olhos fixos sobre ela, até que aquele pequeno ser, como num relapso, percebeu minha presença, e com o mais espontâneo dos gestos, abriu um sorriso em minha direção, como quem convida um amigo a se aproximar. Jamais poderei explicar a sensação que tive naquele momento, de finalmente ter encontrado em algo tão extremante simples, parte daquela realidade que há tanto tempo procurava... Finalmente havia encontrado a direção certa, em meio a tantos infinitos erros. Descrever tal passo está fora de meu alcance no momento, mas aquele sorriso definitivamente valeu meu dia.

Sunday, February 24, 2008

again and again and again

Não deu certo? Tente outra vez.

Ainda não? Tente outra vez.

Conseguiu? Não? Tente outra vez.

Funcionou? Hm... Tente outra vez.

E agora? Tente outra vez.

Nada? Tente outra vez.

[...]

É pra isso que existe a placa "retorno".

Tuesday, February 05, 2008

crying behind the rain

Fazia frio lá fora, o barulho da chuva caindo no telhado era cada vez mais estrondante. Ela foi até a janela, abriu a cortina e observou por uma pequena fresta, a água escorrendo pelo vidro, durante alguns segundos. Seus olhos estavam fixos na janela até o momento em que se deu por si, chacoalhou-se e voltou à realidade. Já estava descendo as escadas em direção à cozinha para tomar um copo de água quando notou seus lábios tremendo, subiu novamente até o quarto e se agasalhou com seu velho casaco de lã vermelho que tanto gostava. Era o casaco que ele lhe dera de aniversário há dois anos atrás, pouco antes de abandoná-la. Ela sempre o usava quando saiam juntos, querendo mostrar o quanto havia gostado do presente. Na esperança de encontrar algum vestigio dele, aproximou o rosto do casaco, lentamente, mas nada encontrou que pudesse lhe trazer vivas recordações... Seu perfume, antes completamente impregnado a ele, havia se dissipado completamente. Seus olhos encheram-se de lágrimas, encostou-se na parede e ficou ali, imóvel, com o mão sobre seu peito, apertando o casaco entre seus dedos com todas as forças que lhe restavam. Suas roupas começaram a deslizar contra a parede e ela foi escorregando, aos poucos, até chegar ao chão... Sentou-se e ali ficou, olhando fixamente para a última foto que haviam tirado juntos, ela sorria e ele a envolvia em um abraço. Uma primeira lágrima caiu quando lembrou-se de como seus abraços eram reconfortantes e infinitas outras vieram a seguir quando se deu conta de que nunca mais poderia ter essa mesma sensação de proteção novamente, não do jeito que era com ele, com o abraço dele, com o toque dele. Levantou-se sentindo certa dificuldade para se equilibrar e deslocou-se até a estante aonde guardava suas cartas, abriu a primeira gaveta e pegou a ultima carta que ele lhe havia escrito, abriu com máximo de cuidado para não correr o risco de rasgar aquela última recordação em forma de papel e começou a reler aquelas palavras que há dois anos não lhe saiam da cabeça. Ao fim da carta, ele despedia-se dizendo: "Então saiba que o brilho do seu olhar foi o que me manteve aquecido durante todo esse tempo, se não fosse por isso, há muito tempo meu coração já teria deixado de bater... Se eu consegui prolongar meu tempo de vida tanto quanto foi feito, agradeço a você, e agradeço infinitas vezes mais por ter compartilhado cada segundo de seu tempo comigo. Só eu sei o quanto eu te amei. Com amor, seu P." Quando terminou de ler, olhou uma outra vez pela janela e em meio a toda aquelas nuvens no céu, uma estrela ainda brilhava, brilhava viva, brilhava forte.

manuscritos segundos por fido

"A vida se tornou amarga
O lápis não mais corre em versos
(E o tempo para quando deveria passar)
Há resposta nenhuma e nada
Além da mistura cíclica claro-escuro
(E o tempo passa quando deveria parar)
Porque as estreitezas do passado enlaçam
Nem a lua brilha mais
Eu descobri que cada hora
Tem vinte e quatro dias"