Wednesday, October 08, 2008

insanidade

Não estou certa de como isso começou, não me lembro de datas, nem mesmo de circunstâncias, só o que sei é que aos poucos a minha inspiração se dissipou, e aquele brilho que antes era quase ofuscante quando voltado à meros olhos sensíveis, agora é turvo e indiferente. Eu costumava saber (ou achar que sabia) como é me sentir importante pra alguém, e eu me lembro de que eu tinha algum tipo de vício com relação a essa sensação. É, eu me lembro, embora não sinta mais nada que se compare àquilo desde... desde algum tempo que eu não consigo me recordar. Talvez eu tenha ficado mal acostumada demais enquanto eu ainda possuia a minha inspiração, a minha esperança. Talvez tenha sido isso... eu provavelmente escondia em meu interior uma pérfida (in)certeza de que essa sensação nunca iria me abandonar, de que eu estaria completa para sempre. O fato é que eu ainda não havia percebido quão traiçoeiro o mundo dos sentidos poderia ser, ou então, o quão conturbado o meu mundo psicológico poderia ser. Não posso negar que cada simples gesto emitido por humanos é relativo, já que não há nesse planeta duas cabeças que pensem da mesma forma e isso é um fato ao qual as pessoas já deveriam ter se acostumado, inclusive eu mesma. Provavelmente se as coisas fluissem desse modo, a existência da palavra "desabafo" seria desconhecida até hoje. Desabafo? Não, não é isso que eu preciso no momento e não é isso que eu tenho precisado há meses. O que eu preciso, o que eu preciso de verdade, é ter alguém por perto que me abrace ao invés de me dizer a cada três segundos que tudo vai ficar bem ou então que sabe como eu me sinto, porque por mais que a minha descrição seja nítida pra você, ela não é o suficiente pra mim. Eu não preciso de alguém que sinta a minha emoção, nem que tente tirar qualquer dor de dentro do meu peito caso ela exista, só o que eu preciso é de alguém por perto, que goste de ficar ao meu lado mesmo quando eu não estiver exalando litros de felicidade, alguém que não saia correndo quando visse rolar a primeira lágrima caindo de meus olhos. Caramba... eu tenho consciência de que eu sou um ser errante, sei muito bem disso, mas todos somos, não é? Será que esse indiferentismo e essa insensibilidade constante vai ser sempre assim, inalterável? Seres humanos não são feitos de pedra, não são máquinas. Então qual é o problema em demonstrar um pouco de sinceridade pra variar? Um pouco de humanidade? As vezes eu queria ser cega. Eu queria ser cega, surda e muda (e um pouco mais ignorante também). Assim, eu poderia me isolar dessa sociedade desvairada. Sei que viveria angustiada, na dúvida de como seria poder me comunicar com o "mundo exterior", mas pelo menos assim eu ainda teria esperança de que humanos poderiam ser seres admiráveis, ou no mínimo, descentes a ponto de merecerem algum vestígio de reconhecimento. Sabe, talvez eu deva adotar algum animal de estimação e esquecer esse discurso idiota...

3 comments:

Anonymous said...

:O

Michel Valverde said...

Cara Daniella,
Escrevo-lhe novamente para gratificá-la pelos escritos tão desenvoltos.
Permito-me fazer uns comentários sobre sua última postagem:

1. A inspiração, encarada como força mágica e genial, é uma farsa. Ela foi inventada pelos românticos num momento em que a reação à sociedade industrial - divergente do estado de natureza jaz abandonado pelos ditames da civilização - reação esta que se concretizou como uma espécie de fuga da realidade, perante a qual o romântico sucumbiu em devaneios. Portanto, cuidado para não associar a inspiração (um momento de confluência de motivações e aprendizados) com o ato criativo que, embora não prescinda da inspiração, também não está sob seu jugo;

2. Esse "alguém" que você procura não existe. As carências humanas só podem ser supridas pela própia assimilação destas num processo dialético. Se superar uma condição dependesse da interferência de um alter-ego messiânico, então muitas pessoas fantásticas surgidas sobre a Terra teriam caído na amálgama do esquecimento. Quando você escreve sobre isso e se express de forma tão fluida, já está reagindo a um estado formado, e nesse sentido traz uma nova ordem às coisas. A percepção continua de si e a reavaliação só é possível mediante um alto grau de inspiração.

Acredito que você, com essa idade e escrevendo como escreve é, sem sombra de dúvidas, importante, senão eu não estaria visitando o seu blog. Cuidado apenas para não pirar em "filosofismos" sem significado algum e prejudicar a sua vida por bobagens contemporâneas retiradas de cultura de almanaque. O pensamento deve alçar vôo ruma à trancendência e não permanecer remoendo restos de banalidades.

Obrigado e tudo de bom!

Bob Dylan said...

De novo espectacular o modo de dizer e expresar a soidade duma PERSOA, dum INDIVIDUO, soamente dizer que es voce uma grande escritora e q pases pelo meu blog cando gostes de o fazer.